Vladimir Nabokov

NABOKV-L post 0011778, Mon, 5 Sep 2005 19:39:00 -0700

Subject
rEVIEW OF pORTUGUESE ADA TRANSLATION
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FW: please forward this to Don since I don´t have his address in the computer I´m now using...
----- Original Message -----
From: Jansy
To: D. Barton Johnson
Sent: Monday, September 05, 2005 2:20 PM




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From: "Jansy Berndt de Souza Mello" <jansy@aetern.us>
Date: Mon, 5 Sep 2005 15:02:30 -0300

Dear Don,
Here is the announcement of Ada´s first translation into Portuguese, now for sale at our book-stores and its first critical review. I tried to translate it, but with no time for checking the quotes in the English original. Despite my apparent ease when writing in English I am a lousy translator of other people´s texts, so I added the review in Portuguese and hope that those who find glaring mistakes can come to my aid sometime in the future. The text offered in the Folha de São Paulo on-line edition has copy-right restrictions.
Jansy



LIVROS

ROMANCE


Chega Ă s livrarias o romance mais ambicioso de Vladimir Nabokov
The most ambitious of Vladimir Nabokov´s novels is now for sale at the book-stores.

"Ada ou Ardor" usa subversĂŁo e nonsense em crĂ´nica familiar.
Ada or Ardor uses nonsense and subversion in a family chronicle
MARCELO PEN
CRĂŤTICO DA FOLHA

"Ada or Ardor" is considered the most ambitious among Vladimir Nabokov´s novels, an American writer of Russian origin ( 1899-1977). It is also considered as one among the three most important novels, siding with "Lolita" and "Pale Fire". Its ambition is connected to the countless references, in general, to a high bookish culture, both culturally and artistically. There is no single paragraph in which the intelligent reader doesn´t come across one or two winks towards Freud, Flaubert, Proust, Braque, "Alice in Wonderland", "Doctor Jivago".
"Ada ou Ardor", segundo consta, é o romance mais ambicioso do escritor americano de origem russa Vladimir Nabokov (1899-1977). Também se o considera uma de suas três ficções mais importantes, ao lado de "Lolita" e "Fogo Pálido". A ambição tem ligação com as inúmeras referências à, em geral, alta cultura livresca, cultural e artística. Não há um só parágrafo em que o leitor inteligente não se depare com uma ou duas piscadelas relativas a, por exemplo, Freud, Flaubert, Proust, Braque, "Alice no País das Maravilhas", "Doutor Jivago".

The book begins with an assumed quotation from Tolstoi " All happy families are more or less different; all the unhappy families are more or less similar". Here the order of the sentence in "Ana Karenina" is altered, where we read that every unhappy family is unhappy in its own way. Besides, as the narrator himself asserts, this sentence has little or no relation with the story´s plot. Nabokov´s approach is of the subversive order, of the comic touch and nonsense. In one word, a parody. For example: "bric-à-brac" becomes "bric-à-Braques"; John MIlton and Abraham Lincoln are welded into a single Abraham Milton; "Doctor Jivago" is turned into "Les Amours du Dr. Mertvago" ( a play with the words "jiv", alive in Russian, and "mert", dead). "Lolita" may refer to a city in Texas or to a skirt that " a small andaluzian gipsy wore in a novel by Osberg". One realizes then that the novel, independently of its subject matter, is in great part a burlesque comment to the entire history of ficcion, and aside, to all history. The space itself is subverted and with it, everything else that it encompasses. Instead of the Earth we find /antiterra. In this strange universe Russia may still be related to America and Boston be close to slavic steppes.
O livro começa com uma suposta citação de Tolstói: "Todas as famílias felizes são mais ou menos diferentes; todas as famílias infelizes são mais ou menos semelhantes". Inverte-se aqui a ordem da frase de "Ana Karênina", segundo a qual cada família infeliz é que é infeliz a seu próprio modo. Além disso, como diz o próprio narrador, a afirmação tem pouca ou nenhuma relação com a narrativa. A linha utilizada por Nabokov é a da subversão, do toque cômico, do nonsense. Em uma palavra, da paródia.
Por exemplo: "bric-Ă -brac" se torna "bric-Ă -Braques"; John Milton e Abraham Lincoln se fundem num Ăşnico Abraham Milton; "Doutor Jivago" se torna "Les Amours du Dr. Mertvago" (jogo de palavras com "jiv", "vivo" em russo, e "mert", "morto"). "Lolita" pode ser tanto uma cidade do Texas quanto uma saia que "vestia uma ciganinha andaluza do romance de Osberg".
Percebe-se que o romance, independentemente da matéria de que trate, é em grande parte um comentário burlesco a toda história da ficção e, de quebra, a toda história. O próprio espaço é subvertido e, com ele, tudo o mais que vai dentro. Em vez da Terra, temos a Antiterra. Nesse estranho universo a Rússia ainda pode estar ligada aos EUA e Boston estar próxima das estepes eslavas.

So much invention irritated some critics, like John Updike, who complained about "the lack of any kind of recognizable human experience" in the book. That experience, nevertheless, can be easily rendered. The cousins Ada and Van fall in love while the young man is spending his vacations at his uncle´s summer house. Even after they discover that they are brother and sister, they don´t avoid the consummation of their passion. Ada´s infidelities, added to parental pressures, ends up by rendering them apart for a long time, but not for ever. The story follows along eight decades of Antiterra´s history.
Tanta invenção irritou alguns críticos, como John Updike, que reclama de "falta de experiência humana reconhecível" no livro. Essa experiência, porém, é fácil de resumir. Os primos Ada e Van apaixonam-se quando o jovem passa uma temporada na casa de campo dos tios. Mesmo descobrindo depois que são irmãos, não deixam de consumar seu amor. Mas a infidelidade de Ada, somada a pressões parentais, acaba separando-os por um bom tempo, mas não para sempre. A narrativa percorre oito décadas da história da Antiterra.



Not one of the characters acts in a plausible way. Ada and Van, aged 12 and 14, behave like sophisticated adults. Ada´s mother is an improbable XIXth Century aristocrat and actress. Actually everybody seems to act as if under the pressure of the major forces wielded by aesthetic artifices or mythopoetic demands. In an interview Nabokov stated that he chose the incest theme because he likes the sound of "bl" in the words "sibling, bloom, blue, bliss, sable" ( brothers, blossoming, blue, glory, zibeline ). Ada loves insects, mainly lavae. She collects animals with abundant protuberances and filaments. Butterflies, though, as they emerge from their cocoons, are prepared and impaled in an enormous pannel. This is an excelent metaphor for the novel. Life is worth while it is still underground, amorphous, amenable to observation and conflict free. It is thus that a metamorphose takes place, it gives up serving living matter. Only the beauty of its corpse under formaldehyde can emmulate the larval artifice. Updike is right. Nabokov speaks about spectral subjects. Or of dead things.

Nenhum dos personagens age de modo muito verossímil. Ada e Van, com 12 e 14 anos, portam-se como adultos sofisticados. A mãe de Ada é uma improvável aristocrata e atriz em pleno século 19. Na verdade, todos parecem agir como se forças maiores regidas pelo artifício estético ou por exigências mitopoéticas os guiassem. Em entrevista Nabokov afirmou ter escolhido o tema do incesto porque apreciava o som "bl" em "siblings, bloom, blue, bliss, sable" (irmãos, floração, azul, glória, zibelina).
Ada adora insetos, principalmente larvas e lagartas. Coleciona bichos cheios de protuberâncias e filamentos. Já as borboletas saídas da crisálida são preparadas e empaladas num imenso painel. É uma excelente metáfora para o romance. A vida vale enquanto é subterrânea, amorfa, passível de observação e isenta de conflito. Assim que sucede a metamorfose, deixa de servir como matéria viva. Apenas a boniteza de seu cadáver formolizado pode emular o artifício larval. Tem razão o Updike. Nabokov fala de coisas espectrais. Ou de coisas mortas.

São Paulo, sábado, 03 de setembro de 2005

Ada ou Ardor: CrĂ´nica de uma FamĂ­lia

Autor: Vladimir Nabokov
Tradução: Jorio Dauster
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 58 (472 págs.)